Cuidado com as palavras: elas são a sombra do que pode acontecer...

Friday, January 20, 2006

O vazio e o "pra sempre"...

O vazio e o “pra sempre”.

Sempre admiti querer ser “livre”, não me “prender” a alguém, viver devendo satisfações pro mínimo de pessoas possível. Na noite danço, brinco, me divirto, beijo, fico, apostando todas as fichas no meu ritmo descompromissado de levar a vida. Mas sair das festas sozinha cansa, esperar por alguém que nunca liga cansa, ser coisa de momento cansa. De que adianta tudo isso? Se no outro dia aqui tô eu... Escrevendo feito aquelas “idiotas românticas”, de quem sempre tive aversão; ouvindo Leoni, Ana Carolina ou todas aquelas baladinhas que até em tão eram “dor de corno” e me afogando num sorvete, ou qualquer coisa que me engorde e me dê celulite, pra esquecer o fracasso, o quanto vazia que sou.
O problema da maioria das pessoas é o costume de querer ter alguém e não de, como conseqüência, ser de alguém. “A toda ação corresponde uma reação”. Queremos só os ganhos, mas não nos dispomos a sofrer algumas perdas. Legal seria se todos entendêssemos que um relacionamento sério e relativamente duradouro baseia-se em alguns princípios básicos, que até uma encalhada como eu sabe... Princípios do tipo confiança, compreensão, flexibilidade. Vemos tantos casais terminando relacionamentos de algumas bodas, outros que não conseguiram conviver semanas juntos, e como nos baseamos sempre nas histórias que fracassaram, acreditamos que conosco acontecerá o mesmo.
A insegurança assola a todos: desde o “patinho feio” até a “pop” com quem convivemos. Agir diante de tantas incertezas aumenta a probabilidade de nossos intentos darem errados. Quando o quesito é beleza, os parâmetros são muito relativos. Muitas vezes nos dizemos encantados com o tipo loiro de olhos verdes ou com uma oriental, por exemplo. E acabamos perdidamente apaixonados por um estereótipo totalmente diferente do esperado... Acontece que, por mais clichê que possa parecer, a beleza não conta todos os pontos em todas as horas. Muitas vezes nos surpreendemos com gestos simples, cotidianos; um cumprimento, um elogio, um sorriso, um olhar, aquela palavra de conforto que se encaixa perfeitamente com o momento por qual estamos passando. São detalhes que fazem toda a diferença naquele dia cheio, mas são detalhes que só os que têm a sensibilidade aflorada percebem.
O encantamento, a paixão, é algo cada vez mais banalizado. Caiu nas mãos do exibicionismo, está à mercê de interesses pessoais. É muito mais fácil olhar para o que está diante dos olhos e não por trás deles. A carência e aquela já citada insegurança nos deixam desesperados se não encontramos outro em quem nos debruçar, com quem dividir nossos pesadelos e sonhos. Transformamos tudo em amor e tudo fazemos em nome dele. Nesse meio tempo não nos perguntamos se tudo isso é verdadeiro ou se é só pra mascarar o constante sentimento de solidão. Quando a resposta está no segundo caso, dificilmente conseguimos nos sentir completos... Mesmo que estejamos em um evento gigantesco, com nossos amigos, com a pessoa que nos serve de “porto seguro”, de nada adianta... Continuaremos com esse peso sobre as costas e com nossos pensamentos vagos, com aquela sensação de estarmos sozinhos constantemente.
Como tudo na vida, encontrar e conviver com a metade da laranja, o pé do chinelo torto, a perna de calça, a tampa da panela, a pessoa que nos faz bem, nos remete a prós e contras, nos exigindo muito mais do que um rosto bonitinho ou uma roupa cara. É necessário permitir-se um tempo, experimentar, saber aquilo que te melhora como pessoa, que te completa. Que nem disse Cássia Eller em uma de suas músicas, acreditamos no “pra sempre” sem saber que o “pra sempre” sempre acaba. Nada de impulsos excessivos, nem de reclamar o tempo todo que se está sozinho. A vida é mais surpreendente do que possamos imaginar, e quando menos esperarmos... Vamos nos deparar com algo, com uma pessoa, que chamaríamos de algo “pra sempre”.

Belize Leite, 16 de janeiro de 2006.