Cuidado com as palavras: elas são a sombra do que pode acontecer...

Saturday, January 26, 2008

Inconveniência

Quando criança reclamamos incansavelmente que queremos ser adultos, fazer "coisas de gente grande".
Depois, quando a gente completa 18 anos e consegue entrar naquela danceteria - que várias vezes já tínhamos tentado entrar antes, seja com carteira de identidade falsa, seja com quilos de maquiagem e salto alto pra enganar - cansamos da mesma gente, dos mesmos estilos, das mesmas músicas, da constância de todas as coisas.
Antes de ingressar numa Universidade, estudamos, adoecemos de nervosismo, questionamos nossa competência, nossa força de vontade. Sofremos e pensamos o quanto difícil é ser vestibulando. Ao entrarmos no nosso tão desejado curso universitário, ficamos tontos com tantas provas e conteúdos a serem vencidos, sentimos a concorrência passando bem próximo de nós, e pra entrar no mercado de trabalho, nem se fala... Coisa triste! Bom mesmo era não se preocupar com essas coisas, quanta saudade!
Quando nos tornamos adultos, e nos são atribuídas diversas e pesadas responsabilidades, repitimos pra nós mesmos o quanto era bom ser criança, o quanto era gostoso aquele descompromisso.
Agora, na segunda quinzena deste primeiro mês de 2008, um insistente vento fresco invade o nosso verão e quem arranjou uns 10 dias pra descansar na praia (e escolheu logo esses) não faz outra coisa a não ser reclamar. Mas se tivesse no calor ardente do habitual verão de Porto Alegre, estaria a espraguejar o coitado do São Pedro, que nos faz um inverno de 5°C e um verão de 40°C!
Aliás, nessa época os créditos com os médicos cirurgiões plásticos ficam facinhos... Quanta gente não entra pra faca com as maiores das esperanças de aumentar a auto-estima, de corrigir pequenas imperfeições, e não sai arrependido, surpreso, certo de que não era bem aquilo que queria... Mas agora já foi, aplicou sua economia de anos na empreitada corpórea.
Vontade de avançar no tempo, vontade de retroceder, vontade de mudar de lugar; saudade, arrependimentos... Tudo isso faz parte das fases de nossas vidas, mas porque reclamamos tanto? Reclamamos por ter e por não ter, por perder ou conseguir, por estar e não estar. Acho que deveríamos fechar mais a boca e usar os outros sentidos pra percebermos os sinais, os reflexos de nossas ações e pensamentos. Porque o mais triste da vida adulta é perceber que tudo que se tem, ou que se sucede, ocorre por única e exclusiva responsabilidade de nós mesmos. Nós trilhamos o caminho que nos levou até onde estamos. E também só nós podemos decidir se seguimos pra esquerda ou para direita, se vamos a diante naquela curva, ou se retornamos, porque só quem sabe de nossas possibilidades, advinha? Somos nós.
Mudar também faz parte da vida e isso implica em deixar algo pra trás e conquistar coisas novas em cada fase por qual passamos. O que a gente tem que fazer é viver o presente da melhor forma, e repeitar o nosso tempo, afinal, ele passa pra todo mundo mesmo. E uma hora aquela hora vai chegar, e liquidar segundos, minutos esperando o tal momento só traz mais arrependimento e mais reclamações.
"Porque não vivo nem no meu passado, nem no meu futuro. Tenho apenas o meu presente, e ele é o que me interessa. Se você puder permanecer sempre no presente, então será um homem feliz. Vai perceber que no deserto existe vida, que o céu tem estrelas, e que os guerreiros lutam porque isso faz parte da raça humana. A vida será uma festa, um grande festival, porque ela é sempre e apenas o momento em que estamos vivendo." Paulo Coelho, em O Alquimista.
A propósito... São Pedro, melhora esse tempo pra eu poder voltar pra praia, por favor!!! *risos*

Tuesday, January 22, 2008

Flashback

Sou o meu amor maior
Com um pouco de egocentrismo
E um tanto de demência
O tanto necessário para trilhar o meu caminho
Sem perder o medo de ser feliz
...

Somos todos pedaços de estrelas, poeira cósmica que o sopro do acaso presenteou com a vida.

Friday, January 18, 2008

Pedaços, de novo.

Já que me apetece mais ler do que escrever... Vou colar aqui partes interessantes de minhas leituras, ok?


Nos filmes de ficção científica do tipo Guerra nas estrelas, que emocionam milhões, não há árvores, somente máquinas com inteligência eletrônica. Nossas inteligências estão cada vez mais ligadas aos vídeos e computadores e cada vez mais distantes da natureza. Há crianças que nunca viram uma galinha de verdade, nunca sentiram o cheiro de um pinheiro, nunca ouviram o canto do pintassilgo e não têm prazer em brincar com terra. Pensam que terra é sujeira. Não sabem que terra é vida.

Há também as dores da alma que nenhuma cirurgia consegue curar. O medo, por exemplo, não pode ser amputado. Pena. Porque o medo paralisa a vida. Dominada pelo medo, a vida se encolhe, perde a capacidade de lutar, entrega-se à morte. Animais amedrontados se deixam matar sem um único gesto de defesa.

Animais não competem. Nenhum tem interesse em saber qual é o melhor. Eles não se comparam. Animais correm por prazer: cães e cavalos correm e pulam por prazer. Mas quando não estão brincando, isto é, quando não estão envolvidos no prazer da atividade, eles não fazem esforços desnecessários. Os movimentos dos animais são determinados por um estrito senso de economia. Só existe uma situação quando competem: onça e veado, gavião e coelho - quem perde ou morre ou fica com fome.

É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer; pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e de uma dureza assombrosas. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão - sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.

"Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma."

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos.

Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.

Para mim Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina.

O taoísmo é um jeito de olhar para o mundo. São muitos os jeitos de olhar para o mundo. Cada jeito, cada mundo. O taoísmo diz que o mundo é feito de encaixes. Tudo vem aos pares. O que não tem par não existe. Tudo é macho e fêmea: yang, yin. Quando as duas partes do par se encaixam faz "dac" - e a felicidade acontece. Para haver encaixe é preciso que cada parte seja incompleta. Se as partes fossem completas os encaixes não seriam possíveis nem necessários. (...) Viver é montar um quebra-cabeça. Viver é procurar encaixes.

O amor é um buraco na alma. Quem ama é pobre. Falta alguma coisa. Peça desencaixada do quebra-cabeça. O sentimento amoroso é a nostalgia pelo pedaço que me falta, "pedaço arrancado de mim". Assim são o masculino e o feminino. O masculino é o pleno que ora pelo vazio que o abraçará. O feminino é o vazio que ora pelo pleno que nele se encaixará. Quando os amantes se abraçam e as peças se interpenetram, os corpos se encaixam, como no quebra-cabeça. Todo ato de amor é uma realização efêmera de uma unidade original perdida. Assim são o yang e o yin, o pleno e o vazio, o seio e a boca, o masculino e o feminino, a fala e a escuta.

(...) CONTINUA.